sexta-feira, 24 de outubro de 2008

PERDAS


O psiquiatra francês David Servan-Schreiber disse certa vez que... “se há alguma vantagem em ficar frente a frente com a morte é que se compreende quanto a vida é preciosa.” Este enfrentamento revela que não se deve desperdiçar a chance de contribuirmos de alguma forma para a existência do outro- é isso que fica depois que se vai embora! É claro que ninguém está disposto a pagar pelas alvíssaras portadas pela Senhora da Foice. Mas convivemos com ela desde o começo dos tempos, quando alguém chorou pela falta do outro ser, tão próximo e querido. O homem, ao longo da evolução, tem-se libertado- pelo conhecimento- de muitos dos medos que lhe afligem, tais como os ligados aos fenômenos naturais: raios, trovões, tempestades, terremotos, vulcões, etc., mas ainda permanece hoje temerário do tempo, esse bicho que tudo come, esse monstro que irá tragando para sua enorme pança a quem amamos e até nossas lembranças. Aprendemos o que há de irremissível nas perdas, nas separações. Sabemos que não mais ficaremos juntos e que, separados pelo tempo, cada um de nós terá digerido a ausência. A todo instante naufragamos no mar desse tempo, entre as ondas de ganhos e perdas de todo dia, até percebermos estarmos sozinhos e ao abandono; trancados, mesmo do lado de dentro da vida, que é curta e, enquanto choramos, ela se vai, e finda também para nós.

Devemos ter pena da alma de cada um, ainda não chamada, que se debate para a vida. Então é suspirar, erguer-se, banhar o triste corpo, porque a alma não carece de banho, mas de luz!

Reflitamos sobre a razão pela qual no álbum da família não há fotos dos momentos de tristeza. Talvez seja um apelo para que sigamos em frente, mesmo que aquela SOMBRA continue a nos assombrar "per omnia saecula".

Jamais compreenderemos inteira e definitivamente os mistérios que envolvem o começo e o fim das vidas, nem os motivos que possam explicar serem elas breves ou longevas... Apenas surgem e se acabam, impondo um ultimato ao homem para que não se veja grande. O que permanece de positivo para a humanidade são as atitudes de cada um de nós em prol do outro. Isso os homens poderão também julgar, mas apenas Deus assina.

Aqui prestamos, nesta oportunidade, homenagem especial ao doutor humanitário Fábio Machado Landim, que se foi quase no dia dos médicos, carimbando nossas memórias e nossos corações.

Crato- Ce, 21.10.2008
João Marni de Figueiredo

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

AO ÓRGÃO RESPONSÁVEL ( Carta de Fernanda Young - Revista Cláudia, 30.06.07)

Caro Pênis,

Tenho notado você olhando torto para mim. Às vezes, basta eu chegar e você se levanta. acaso, você tem algum problema pendente comigo?
O fato de nós estarmos em lados opostos não nos faz inimigos. Ao contrário, guardo um espaço especial para você dentro de mim, e seria ótimo se pudéssemos nos unir em prol de algumas novas conquistas. Os atritos, como em qualquer relação, são normais e bem – vindos.
Você me acusa de se difícil, mas não conheço personalidade mais instável que a sua. Quando eu quero conversar, você se recolhe. Quando canso de tentar, você se anima. Quando finalmente penso entender aonde você quer chegar, você se coloca numa posição diferente.
Sei que a vida talvez lhe pareça mais dura, já que é de você que são cobrados rendimentos e desempenho. Mas o mundo não gira em torno de sua existência como você pensa. Diria até que, nas horas mais tensas, você sempre dá um jeito de ficar de fora. Até no momento em que sua participação se faz mais necessária, a continuidade da espécie, você se limita a entrar com metade da matéria prima e deixa o resto para lá.
Dizem que eu tenho inveja de você – mais inveja de quê, afinal? Você ,desculpe, está longe de ser bonito. Trabalha num ramo de atividade sem o mínimo charme: a remoção de detritos. Mora num lugar abafado, onde o sol nunca bate. Freqüenta locais escusos, de reputação duvidosa, em busca de um tipo de divertimento que já se encontra à mão, em sua própria casa. E aquele seu melhor amigo, convenhamos, é um saco.
Mesmo assim, quero frisar, tenho por você imensa consideração e simpatia. Mais que isso – sempre busquei a sua aprovação de alguma forma, atrás de sinais de que estaria lhe agradando. Você, por sua vez, nem sequer disfarça seu completo egocentrismo. Fazendo-se de sonso e sumido após satisfazer as suas necessidades.
Você se diz sensível, porém jamais se preocupa com o que o outro está sentindo. Quer apenas ocupar o seu espaço e atingir as suas mesmas velhas metas de crescimento. Deveria tentar aumentar suas expectativas, ampliar seus horizontes, investir na sua cultura. Qual foi a última vez que você viu um filme decente?
Sei que dificilmente vou conseguir abalar sua enorme auto-estima, mas, sob o meu ponto de vista, você não passa de um solitário, perdido em sonhos impossíveis e cercado por uma situação bastante enrolada. Acha-se o máximo, superextrovertido e revela-se um bobo alegre e com pinta de seboso. Um cabisbaixo baixinho carente, o tempo todo em busca de qualquer carinho.
Disponho-me a ajudá-lo, colega, caso você reconheça seus defeitos e fraquezas. Posso até te indicar um bom analista. Somente recuso a continuar a ser cúmplice na perpetuação de um equívoco.
Você não é melhor que ninguém, temos o mesmo tamanho nesta história- de fato, se você cabe em mim, sou necessariamente maior do que você.

Resposta enviada por mim á Fernanda Young:

RESPOSTA DO PHAULUS AO ÓRGÃO-METRÔ
(Dr. João Marni de Figueiredo)

Caríssima Vagina,

Está o côncavo para o convexo, a fenda para a broca e a maravilha mecânica da corrente para a catraca... Por que não aceitas a dura realidade?
Preferes a vida mole? Quando nos entendemos e é tão bom! Como és desconfiada, no preparo para o meu mergulho, já que a escuridão é tamanha, peço ajuda aos dedos, cego que sou. É tática de reconhecimento do terreno, pois há verdadeiros “Golias concorrendo”!
Na verdade, sou mesmo um ator, um Tony Ramos de tuas matas, visto que não finges só. Melhor do que quando voltas da depilação parecendo um soldado raso; por vezes um Hitler tirano, com teu bigodinho!
Mas a testosterona não quer nem saber, empurra-me em locas ora amplas – algumas têm até eco! -, ora estreitas, úmidas ou secas, de cheiro do Tietê, embora sejas a comidinha do rico e do pobre, do carnaval ao natal, não importando o preço do bacalhau! Não dá para segurar os vômitos!
Vingas-te de mim sujando-me de sangue e de outros fluidos de menos reputação. Desculpa-me por às vezes preferir à mão a ti, quando não me dás a devida atenção. Falas demais. Será que é porque tens quatro lábios, dois grandes e dois pequenos? Para que eu fique ereto basta que me toques, não precisas dizer nada e, se sou torto, é de tanto pender quando passas... Falas da minha moradia abafada... Risos!
Sou melindroso ante teu abismo, não grites comigo ou me deboches, senão recolho-me igual tartaruga. Estala os dedos, solta beijinhos, chama com carinho que ressurgirei exuberante! Não sejas tão orgulhosa assim, pois se meu amigo é um saco, o teu é um cu! Mas não comentes com ele, teu vizinho, que tantas vezes quebrou o meu galho!...
Entendo que já te decepcionei, mas a vida é assim mesmo, não há unanimidade. Hoje estás numa boa, já te troquei por quem nunca reclamou: fiofó de galinha, priquito de ovelha e buraco em bananeira...
Ou seja, esquece as mágoas, joga fora a arrogância, me adula agora e de sobra deixo as bolas de fora! Vamos aproveitar o momento, na velhice ficarás com orelhonas, todas engelhadas, assombrando a este amigo de outrora, hoje não mais de todas as horas!
Pede ajuda às pernas, escancara teu portão ao ouvires “abre-te Sésamo”!, chegou teu Ali Babá, os quarenta ainda virão, após meu descanso eterno, espero. É a ti quem mais quero, dá lembrança ao pinguelo!
Por fim, meu muito obrigado e reconhecimento: “Senhora, os filhos vieram para pagarmos com o sofrimento o prazer que tivemos com o fazimento. "Devirilhas” Ter tido comigo mais contato. Um beijo carinhoso, molhado e demorado do teu pênis.